Universidade forma para o SUS em Brasília
Escola Superior de Ciências da Saúde será ampliada
Na quinta-feira, o projeto que vai alterar a
lei de criação da ESCS para transformá-la em Universidade de Ciências da
Saúde do DF (Unisus) será apresentado à comunidade acadêmica
e, em seguida, encaminhado para a Câmara Legislativa. Até o fim do ano,
espera-se que seja aprovado. A proposta resolverá problemas
administrativos e fortalecerá a escola.
A ESCS nasceu com uma proposta inovadora que, diante das atuais
polêmicas sobre a formação inadequada e a ausência de médicos
suficientes no SUS, é vista por especialistas como uma solução. Os
estudantes dos dois cursos disponíveis atualmente – Medicina e
Enfermagem – têm atividades práticas na rede pública desde o 1º ano.
“Hoje há um abismo entre o mundo do trabalho e a formação do
estudante, mas os nossos estudantes se formam dentro do SUS e para o
SUS”, garante Gislene Regina de Sousa Capitani, diretora-executiva da
Faculdade de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs), entidade da Secretaria de Saúde mantenedora da ESCS.
A metodologia de ensino da instituição também é diferente. Os
estudantes, desde o 1º ano, discutem problemas reais das diferentes
regiões e níveis de atendimento da rede, trazidos por tutores. Esses
professores não dão aulas convencionais. Apresentam as dificuldades da
rede, auxiliam em pesquisas quando necessário e deixam os alunos
estudarem a fundo o problema.
“No começo, assusta, dá vontade de sair correndo. Passamos a
vida sentados, ouvindo um professor, eu achava que não ia funcionar.
Hoje, defendo com unhas e dentes”, comenta Michelly Torres Maia, 22
anos, aluna do 4º ano de Medicina. Ela conta que fez vestibulares para
várias instituições e a metodologia não foi o fator de decisão pela ESCS.
Ela e os colegas Landwehrner Lucena da Silva, 21, do 3º ano, e
Henrique Yuji Watanabe da Silva, 24, do 6º ano, e Clarissa Bezerra de
Santana, 19 anos, do 3º ano, aprenderam valorizar a construção do
conhecimento. “Eles não dão nada mastigado. Apenas nos dão ferramentas
para correr atrás do conhecimento”, afirma Henrique.
Valorizando a rede pública
O modelo do curso de Medicina da ESCS atende às diretrizes
curriculares nacionais, aprovadas dois meses antes da criação da
instituição, e que ainda estão longe de ser realidade na maioria das
escolas médicas. As orientações para os currículos de Medicina já
completaram 12 anos e exigem mais integração entre o ensino e o mundo do
trabalho. Especialmente no SUS.
Os estudantes da ESCS saem da escola com uma formação holística, de
modo que possam resolver os problemas mais prevalentes nos pacientes. “A
escola se propõe a formar médicos generalistas, o conhecimento
específico será aprendido em outra fase. Temos muito contato com o
paciente, então não temos medo dele”, analisa Landwehrner.
A diretora ressalta que a grande diferença da escola é que os
estudantes vão para os hospitais aprender e os preceptores têm de fazer
essa integração. Por isso, os profissionais da rede pública de saúde são
fundamentais para o sucesso do projeto. “Os professores precisam fazer
parte do serviço de saúde para problematizar as aulas com questões
reais”, define Gislene.
Com a universidade, a diretora espera fortalecer os pontos
considerados essenciais para o projeto, como a relação com os serviços
de saúde, e resolver antigas pendências, como a falta de autonomia
administrativa. Além disso, será possível criar a carreira docente na
instituição – hoje os 540 servidores e professores são cedidos – e
definir eleições diretas para reitor.
Outro compromisso que será assumido pela Unisus é o de duplicar as vagas de medicina (atualmente, há 80 vagas disponíveis por ano) e abrir uma nova graduação. Há um grupo de trabalho avaliando necessidades locais da rede de saúde para escolher esse próximo curso. Todas as graduações da universidade continuarão sendo na área da saúde, atendendo o SUS.
Até 2015, a ampliação também ocorrerá na pós-graduação. Um curso de
doutorado na área de Educação em Saúde será montando. Uma das
possibilidades será estender uma parceria feita com a Universidade de
Maastricht para o mestrado. A universidade holandesa tem um reconhecido
programa de ensino na área de aprendizagem baseada em problemas.
O secretário de Saúde do DF continuará presidindo o Conselho
Deliberativo da Fepecs, a mantenedora que será uma fundação pública
vinculada ao governo local. Segundo Gislene, isso é importante para
garantir que as políticas de ensino continuem voltadas para as
necessidades da rede de saúde.
Soluções
Apesar dos elogios ao modelo de ensino da faculdade, os
estudantes acreditam que só a metodologia não é garantia de que os
futuros médicos queiram atuar no SUS. Às vezes, acontece o contrário.
Como conhecem a realidade de perto, desanimam de continuar na área.
Especialmente atuando como médicos de família.
“Se não temos uma atenção primária de qualidade, não vamos ter
vontade de ser médicos de família, porque não conseguimos fazer
intervenções de fato. A escola acaba mostrando a crueldade do sistema”,
diz. Os meninos também apontam que as atividades de integração
ensino-aprendizagem precisam ser aperfeiçoadas para que o resultado seja
melhor.
Henrique, que está se formando, diz que, na prática, faltam médicos
de família na rede para que os estudantes possam acompanhá-los e
entender a realidade da profissão. “Eles não são valorizados no SUS e
isso precisa mudar também”, lamenta. Para eles, investir nas condições
de trabalho é tão importante quanto mudar a formação.
“Não há como fazer mudança na política de atenção à saúde se não
houver mudanças nas políticas de formação médica”, avalia Gislene.
Fonte: WSCOM
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